sábado, março 17, 2007

Limpidez e consistência das "reformas" de que o país precisa

A limpidez, consistência e estruturação sólida das reformas que propõe este governo nunca deixará de me espantar. Os grupos de estudo disto e daquilo vão debitando resultados, ora aqui, na educação, ora ali na saúde, os media ficam felizes porque têm assunto, a consistência de tudo aquilo escapa a qualquer ser pensante mesmo dotado de inteligência rara (acho até, e como exemplo, que nem o ministro da saúde, de cuja craveira não duvido, perceberá muito bem para onde exactamente está a conduzir o sector que dirige), ora acolá no ensino superior (que não é educação como todos sabemos, é ciência e tecnologia, sendo em abono da verdade o único ministério que parece pensar antes de anunciar) , ora acoli na defesa, ora (Deus nos ajude) na administração interna. Alguém terá uma ideia no governo de como todas estas medidas e anúncios de medidas se articulam?
Mas para quê articular tudo - dir-me-ão - o que é preciso é dar ideia de que se estão a fazer reformas profundas, se é para pior, isso numa primeira fase ficam só a saber as vítimas directas que em vão estrebucham face à fórmula de propaganda que, embora proveniente do mais primário senso comum, é o emblema deste governo, e que vem sendo insistentemente martelada nos media pelos excelentes fazedores de opinião: "é natural que haja resistência à mudança".
De facto, e peço desculpa por insistir nos fascismos, mas também Hitler encontrou fortes opositores às profundas "reformas" que fez, e os autorizados fabricadores de opinião de então também disseram que as medidas a tomar eram imprescindíveis para a sobrevivência e o desenvolvimento da nação! Estes senhores que temos no governo não falam em pátria nem em nação e acham que ficam dessa forma asseguradas a natureza democrática e a justeza das decisões que implementam sem qualquer hesitação, mesmo quando verificam que os seus opositores argumentam com base em conhecimento do sector que alguns dos implementadores nunca tiveram nem alguma vez terão. Os nossos governantes não falam em pátria nem em nação , dizem Portugal e país, mas misturam já liberdade com lealdade –esta da lealdade foram-na desenterrar aos arquivos do 24 de Abril para a aplicarem aos funcionários públicos e calá-los de vez.

A propósito deste calar a voz, é acabrunhante o que se passa no sector da educação não superior, em que simplesmente se cortou a palavra aos profissionais do terreno, calando sindicatos a respeito de política educativa, como vimos há uns meses acontecer no prós e contras. Não considero que os sindicatos representem muito bem a classe mas não especialmente em política educativa. O problema é que os profs não têm outros representantes enquanto profissionais. Se os sindicatos são ouvidos em direitos laborais , têm que ser ouvidos em política educativa. Não me parece que haja algum sindicato que não tenha também uma ideia de política educativa. Sabemos que essa ideia não reflecte de forma rigorosa o que pensa a classe, sobretudo nas suas diversas sensibilidades, conhecendo-se a pouca independência face aos partidos, no entanto, considero que quanto mais peso tiverem na definição da política educativa mais os sócios exigirão essa independência. Por que razão a ministra e os media com ela, retiraram a palavra aos sindicatos dos professores quando se discutia precisamente o conteúdo funcional da sua carreira? Consideram-se os profs como meros e broncos executores . Agora dá-se a "VOZ" aos conselhos executivos, como disse a ministra, a pensar numa espécie de conselho de reitorzinhos - e lá vão eles e elas todos contentes ao cabeleireiro para a reunião com a ministra, para tentarem o prémio das boas práticas. O resto da classe, fica no terreno, esperando as ordens que se seguem, obedientemente apinhada nas capoeiras, onde , segundo consta, desde o anúncio do concurso para peru titular, tem aumentado o número de ocorrências de biqueiradas entre virtuais concorrentes...

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