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terça-feira, maio 30, 2006

Tubarões, sábios e circos

"Nós é que produzimos riqueza, nós, os empresários, nós, o sector privado! O Estado produz despesa e só despesa. Há que matar o monstro, cortar cerce nesse cancro!!!!"

E assim andamos! Os raciocínios mais grotescos na frente de sábios e nenhum deles já se lembra das aulas (que possivelmente até eles próprios deram) sobre a natureza e sobre a construção do Estado do Bem Estar (ou Providência ou Welfare State, whatever!!!!!!!!!!!!!). A questão do Estado liberal versus Estado social foi reduzida a isto: como nos livrarmos dele sem guerra civil !!!!!!! Meus senhores, ou a vossa sapiência se degradou, revelando-se fraca, muito fraca, a fazer coro com os erros grosseiros da plateia jornalística ou é outra coisa bem mais grave.
Muitos ficaram maravilhados com a sapiência; podem crer, resultou a abordagem com graficozinhos, resulta sempre, arruma logo com 80% da audiência. O nosso avisado público, ou a nossa mui douta classe média (que será isto de "classe média", mas essa é outra questão...) acha logo que o detentor dos números que deram origem às mágicas e elegantes linhas sabe muito, os gráficos são imbatíveis enquanto prova de sapiência!
Claro que não duvido que aqueles dois financistas saibam muito, por isso me parece sinal de coisa mais grave :presentearam-nos com aquele paternalismo muito conhecido em programas televisivos- vamos dar alguns números, não muitos, que eles não entendem e mudam de canal. Não vamos entrar em grandes discussões teóricas, não vamos falar de História da Europa, parece ideologia e eles cansam-se e mudam de canal.
E assim, mais uma vez, a ciência (económica neste caso) submetida ao escrutínio das audiências... não houve debate técnico, estavam todos de acordo! Tenham dó daqueles que ainda têm confiança no ser humano como ente capaz de pensar com rigor! E a ciência ou tem rigor ou não é ciência ...digo eu, ...mas aquilo era TV... claro ...pois… assim o coro da asneirada continua (agora reforçado por sábios) e os senhores empresários foram entronados como excelências... no país campeão da baixa produtividade...claro, desculpem, culpa do Estado ,pois então, claro, esqueci-me...
Defendi outro dia em conversa de café (ainda se fazem sem medo do pide do lado, mas isto das conversas de café é outra questão também) que era bom que a selecção se ficasse por dois jogos no mundial e voltasse para casa cedo, a ver se as pessoas começavam a pensar melhor nas soluções para este cantinho.... mas, pensando melhor, não! Vão até à final , vão, por favor, esforcem-se, pois assim pensam-se menos disparates, quer dizer, dizem-se e pensam-se muitos, claro, mas a asneirada sobre o futebol tem menos consequências para o cantinho. É que as emoções da audiência estão a conseguir traduzir-se em acção. O governo faz aquilo que acha que será aplaudido pela turba, não interessa para onde se vai, interessa satisfazer as bancadas do coliseu! Estão fartos disto do défice! Querem sangue, dê-se-lhes sangue!!!!!!!
Agora são os funcionários do Estado, sim, sim, altera-se tudo, a constituição também, claro que Belém concorda, é só telefonar ao Barroso , a ver se podemos, não vá o diabo tecê-las com aquele intrincado acervo legal...no problemo... é para já!
E amanhã, quem estará lá em baixo com os bichinhos esfomeados???...........

sábado, março 18, 2006

Contradições e desespero

Rede de cuidados continuados, tarde, tarde demais para muitos, mas finalmente alguma esperança dos lados do M. da Saúde, talvez haja um plano de melhoria de um sistema degradado, injusto, desumano. Um sistema hospitalar que permite que os médicos dêem altas criminosas a pessoas em estado agudo (claro, para muitos médicos, um idoso é por definição um demente, não lhes importando as queixas lancinantes de dor, de desconforto e de confusão, portanto, o estado agudo ou convalescente serão eles, deuses-doutores a decidir) não lhes interessando as informações dadas pelo médico que enviou o doente, pela família, pelos tripulantes das ambulâncias, fazendo tábua rasa de tudo isso, emitindo juízos na área que não lhes compete, a área social, julgando os familiares sem quaisquer dados para isso, não acreditando nas informações fundamentais fornecidas pela família ou acompanhantes quando o doente se encontra confuso ou apático, usando, para justificar as altas, as próprias respostas agitadas, automáticas ou resignadas do doente que acabaram de apelidar de demente senil (mesmo quando o acompanhante do paciente lhes explica que este, dois dias antes, dirigia pessoas no lugar onde ainda trabalhava uma vez por semana como técnico, ou seja, a meu ver, demência senil fulminante talvez fosse para um médico consciente e diligente motivo para investigação mais profunda)... errando despreocupadamente e, dada a impunidade, poderei dizer descaradamente nos diagnósticos na área que lhes compete, apenas com o objectivo básico e baixo de se verem livres de mais um "idoso"...mandando-o para a família sem qualquer apoio médico continuado, com medicação oral quando o doente já recusa todo o alimento. Como levar casos assim a tribunal, se o paciente tem mais de oitenta anos? Quem poderá ganhar um caso destes? Que argumentos em tribunal contra os médicos se ao mesmo tempo eles conseguirem também que as autópsias sejam "brancas"? Resta a impunidade total dos déspotas a quem deram o poder de julgar e aplicar a pena: às vezes a pena capital. Irreversibilidade de um lado, impunidade total no outro... todos os dias, quantos matam, reles vermes que fizeram um juramento que estará apodrecendo algures, tal como as suas almas?