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domingo, maio 13, 2007

Eça , Campanha Alegre

«Junho 1871

Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:

Onze ou quinze homens, sempre os mesmos. alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder …O poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar num rumor de risos.

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão — os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País!

Os outros, os que não estão no poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais— os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País.»

Eça de Queiroz, Uma campanha Alegre (“As Farpas”)


domingo, abril 29, 2007

Relendo Eça

“— Ando aborrecido! — é o coro geral. Os espí­ritos estão vazios, os sentidos insatisfeitos. Gra­dualmente, com a vontade doente, o corpo enfra­quecido, o homem só procura distrair, matar o tempo. Mas em quê? Na leitura?
Não se compra um livro de ciência um livro de literatura, um livro de história. Lê-se Ponson du Terrail—emprestado!
Ao teatro não se pede uma ideia: querem-se vistas, fatos, mutações. O espírito tem até pre­guiça de compreender um enredo de comédia; prefere-se olhar recostado, fazendo a digestão de um mau jantar, os bastidores pintados do Rabo do Satanás.
O Passeio Público é um prazer lúgubre. É uma secretaria arborizada, onde se vai estar, gravemente, em silêncio, do olhar amortecido, de bra­ços pendentes!
Os cafés são soturnos. Meio deitados para cima das mesas, os homens tomam o café a peque­nos goles ou fumam calados. A conversação extinguiu-se. Ninguém possui ideias originais e próprias. Há quatro ou cinco frases, feitas de há muito que se repetem. Depois boceja-se. Quatro pessoas reúnem-se: passados cinco minutos, murmuradas as trivialidades, o pensamento de cada um dos conversadores é poder-se livrar dos outros três.
Perdeu-se através de tudo isto o sentimento de cidade e de pátria. Em Portugal o cidadão desa­pareceu. E todo o Pais não é mais do que
uma agregação heterogénea de inactividades que se enfastiam.
É uma Nação talhada para a ditadura — ou para a conquista.”

Eça de Queiroz, Uma campanha alegre