quinta-feira, junho 07, 2007

Concurso a comendador: vendem-se e dão-se pontos

Alguns candidatos ao lugar onde pensavam que já estivessem, ou seja, os profs no 10º escalão descobriram que têm pontos a mais.
Sugere-se ao ME que seja dada a possibilidade de serem transaccionados pontos, dado que se verificam situações surrealistas de pessoas com curriculum vitae incontestavelmente bom, com experiência de todos os cargos previstos e bem cotados no concurso que não têm pontos suficientes ou têm poucos já que esses cargos, desempenharam-nos antes de 1999; depois de 1999, deram lugar aos boys que vão "apanhar" na boa os lugarzinhos tão cobiçados. Há até candidatos com excedente de pontos no 10º escalão que os davam só para atenuar as injustiças gritantes e acalmar os vómitos estomacais que têm já (e vão ter muitos mais quando chegar a avaliação), ao verem gentinha medíocre nos primeiros lugares das listas que irão sair graduadas dos profs do 8º e 9º escalões, ultrapassando profissionais que todos sabem serem muito melhores!!!!
Uma vez que o próprio sindicato (FENPROF) andou a dizer para o pessoal concorrer pois andaram a espalhar a ideia de que- "a sair alguém, não vão ser os titulares", passa-me pela cabeça que o ME lhes pagou para espalhar o medo e impedir a classe de ter brio - assegurando assim, com o medo à lista dos excedentários, a inviabilidade da ideia de NÃO CONCORRER NINGUÉM. Claro que para fazerem isso, os professores precisariam de unidade e espírito de classe que não têm e de uma organização que os defendesse e representasse, que também não existe. . . Brio também vão tendo cada vez menos, pois já vão fazendo coisas, por medo, que pensavam nunca ter de vir a fazer.
Um concurso cuja motivação é o medo está inquinado à partida. O concurso para titular tem um conteúdo funcional de jure e de facto. "Logo se vê" -diz o prof, referindo-se à avaliação de colegas- "depois se contorna a coisa".
Silêncio nos media quanto ao que de facto fez Mário Nogueira, se esta fantochada a que chamam concurso para professor titular está ou não a ser contestada pelos sindicatos que, à falta de melhor e e apesar de tudo, não deixam de ser os representantes dos professores.
O cantinho no seu melhor, digo eu!!

1 comentário:

Anónimo disse...

«11-Jun-2007
Cecilia honorio
O deserto do concurso para professor titular
O concurso para professor titular (não é a caça ao título é a condição de progressão numa carreira hiper-congelada) é mais um retrato sinistro deste ministério.
Primeiro, nem é bem um concurso, é uma coisa que se faz escola a escola, sem critérios controláveis, sem que se perceba, por exemplo, qual a razão - e quando a ministra falava de 1/3 de vagas para as candidaturas de 8.º e 9.º escalão - para a escola A ter 1/2 de vagas para o departamento de matemática e ciências experimentais e 1/4 para o de ciências sociais e humanas. Transparência zero.

Neste pseudo concurso, onde contam apenas os últimos 7 anos (quer se tenha vinte ou trinta de serviço), a classificação profissional não conta e bons e maus resultados com os alunos valem o mesmo. O que conta mesmo é ter cargos. Mas nem todos. Ser presidente de um conselho executivo dá 9 pontos por ano, coordenador de departamento (cargo que pode ser gerido com uma a duas reuniões por período) vale 6, mas a direcção de uma escola de 1.º ciclo dá 4 e um director de turma vale 2, e até era para não valer nada.
Este concurso, que vai esmagar milhares de professores de forma injusta e humilhante, parece apenas ser filho da loucura ou da arbitrariedade absoluta. Exemplifica-se: A, com mais de trinta anos de serviço, com 18 de classificação profissional, e que não tenha tido cargos nos últimos 7 anos (podendo mesmo ter dado as melhores aulas do planeta e com os melhores resultados e ter desempenhado no passado todos os cargos e mais alguns) poderá não ter pontos para ser titular, ao contrário de B que, tendo média de 10, tenha sido presidente de um conselho executivo nos últimos 7 anos, ou tenha dado aulas e, com redução da componente lectiva, assumido a coordenação dos professores da sua disciplina...

Não vale a pena multiplicar exemplos sórdidos porque eles serão, infelizmente, vividos na pele, e menos ainda achar que o problema é @ professor A ou B (não quer a ministra outra coisa). E parece arbitrariedade absoluta, mas não é.

Sabendo-se que a ministra encomendou um estudo para reestruturar a carreira dos professores que teve a carreira militar como referência, e já nada estranhando, não faltou quem pensasse que os 7 anos de apreciação curricular tinham uma qualquer carga simbólica. Mas o Decreto-Lei 200/2007, que regula este concurso, está para além da pura alucinação ou da simples fantasia. Tem um objectivo político claro e não é uma pura criação deste ministério: destina-se a premiar os poderes instalados com o modelo de gestão dado à luz pelo 115-A/98. É só por isso que são pesados 7 anos e não mais.

Poderá dizer-se: quem é que ia adivinhar? Quem ia saber que se não se fizesse ao cargo a partir de 98 podia ficar a chuchar no dedo? Quem é que ia prever que só os cargos assumidos desde aquela data seriam a fonte do prémio e do castigo na progressão na carreira? Quem é que ia adivinhar que uma ministra da educação, saída das trevas socialistas, ia mesmo levar até ao fim uma cadeia hierárquica de burocratas?

Sem generalizações à laia deste ministério (e com o respeito devido a muita gente séria, presidentes de conselhos executivos e detentores de cargos de gestão intermédia, que por esse país fora dá o que pode e o que não pode) a verdade dói: o PS sabia que um dia ia ser assim e há poderes instalados nas escolas que, aqui e ali, também o sabiam e foram antecipando as suas cadeias internas de poder. Agora, só falta mesmo à ministra dar a última cacetada nos últimos resquícios da gestão democrática das escolas.

Os sindicatos interpõem providência cautelar ao concurso e comprometem-se a ir até ao fim, o PSD pede a apreciação parlamentar do diploma (o BE não o pode fazer por não ter número suficiente de deputados), e a unanimidade possível é a da brutalidade da arbitrariedade, esperando-se que, ao menos desta vez, deputados e deputadas do PS não voltem a deixar declarações de um voto amordaçado.

Hoje, são quase todas as razões que exigem às e aos professores o melhor do seu direito à indignação, o melhor da sua capacidade de luta e da sua força para impedir a fragmentação da sua identidade e a recolocar no centro do futuro, que é esse o seu lugar.

Cecília Honório »
http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=3084&Itemid=46