domingo, maio 06, 2007

Questões de género no dia da mãe

Apesar de tudo é ainda a blogoesfera o espaço onde cada um, mulher ou homem, pode dizer. Dizer. Não interessa o quê. Mas as mulheres aí não têm que esperar pelo que pensa o marido. Elas dizem.
Normalmente não há sensibilidade disseminada para as questões de género. As mulheres normalmente são as últimas a fazer a estatística de género de uma sala de reuniões. Sobretudo as da geração da revolução, habituaram-se a ver o mundo por uma lente ideológica em que há pessoas antes de haver homens ou mulheres, e nem reparam no que entra pelos olhos dentro a passo e força de retro-escavadora: as manchas de fatos negros em todo o lado, por todo o lado neste país que se diz europeu. Por exemplo, a reunião das entidades não sei de quê do Oeste, em defesa da Ota e lá estavam eles, todos de gravata, todos dizendo coisas, decidindo coisas. Não é assim nos bancos das universidades, não é assim nos bancos das escolas secundárias: elas são escolarmente melhores que eles, e por isso também não é assim na função pública dos serviços de educação e saúde onde o acesso se faz por concurso documental: no entanto, nas estruturas de decisão lá estão ELES.
Eles tomam a palavra antes delas, eles não a largam tão cedo, mesmo que o que digam seja palha, seja pouco, seja nada. E eles são os primeiros a fazer a estatística, a lembrar a pertença de género quando se sentem em minoria e aí cheios de humor do mais original, dizem cá estou eu entre as mulheres e falam também eles em primeiro, eles em último, eles durante. E o tempo infinito que se perde com a retórica deles é acabrunhante.
Não, infelizmente, não sou feminista, digo infelizmente porque assim, como penso, estou sozinha, mas prefiro assim, a omitir parte do que penso. Já explico porquê. Não posso deixar de achar que elas fazem frequentemente um óptimo negócio. Eles que tenham as chatices, elas ficam sempre com a casa e a pensão de alimentos, para quê ainda estarem-se a preocupar muito com isto de, em todo o lado, serem eles a tomar todas as decisões, e as deixem em casa a tomar conta da prole e a ver a telenovela? E elas são melhores tecnicamente em muitas áreas, no entanto, são eles que apanham os lugares de decisão. Oh, pensam elas, venha o salariozinho de decisor para casa, e está-se bem. Eles tomam ainda conta do IRS e afins. Elas preferem não ser muito visíveis, até porque eles são tanto mais rudes quanto mais visíveis elas forem e lembrar-lhes-ão, mais cedo ou mais tarde, que são reles mulheres. Aconteceu com Manuela Ferreira Leite, com Lurdes Rodrigues, para citar alguns exemplos. Sobretudo com a última, não a vou defender, mas não gostei de algumas formas claramente sexistas com que foi atacada .
É isto que penso e por isso, acho que seria expulsa mais cedo ou mais tarde, como blasfema, de qualquer organização feminista.
Mas não deixo de pensar também que este estado de coisas tem consequências graves para o país. É que eles , coitados, são assim, e decidem 10 estádios para o país, pois atão...e agora a OTA pois atão... e faz-se tarde para ver a bola, meus senhores vai falar o Senhor Ministro de .... e o Sr Presidente de... e o Senhor Vereador de... o Senhor Presidente do Conselho de Administração de ......... e depois vamos todos ver a bola. E vão para casa pensando: e que bons que nós somos, que bem que eu falei, está no papo, agora é irreversível, somos mesmo bons nisto.
Talvez a blogoesfera ajude a combater este estado de coisas pois aí elas estão muito presentes e activas e talvez lhes venha o gosto pela visibilidade. É que aí podem calar os insultos à velocidade de um simples click.
Disse.

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