terça-feira, outubro 17, 2006

Se concordarem comigo, temos acordo, se não, farei o que entender

Disse o governo, antes da negociação final com os professores. Boa! O V. ídolo de bigode não diria melhor, claro que em Alemão soará bem melhor (vou saber como se diz, mas agora não tenho vagar). É, de facto, um bom começo para "negociar", a ver se percebem de vez quem manda. Mas não, não vinha falar dos professores e do coro de asneiradas que por aí se tem dito e escrito sobre uma profissão de alta complexidade que todos pensam conhecer só porque todos passaram pela escola ou porque todos têm um filhinho que já há muito não controlam e que despejam nas escolinhas para que os professores o aturem durante o dia . Isto de ser só o dia de semana está mal, não se percebe porque se não inventou ainda uma maneira de obrigar essa raça de malandros a tomarem conta da criançada nos fins de semana, nas férias e também à noite para que os meninos não vão para os bares e discotecas gastarem-nos o taco! Nós, os papás encontrámos uns bons idiotas que têm espírito de missão, infelizmente esses idiotas, convencidos de que a missão é complexa e dura, também ganharam a mania de que deviam ter regalias. Senhores do governo, estão a trabalhar muito bem, que esses gajos já se andavam a recusar a dar nota para passar à nossa mui polida prole e a negar-se a aturar as suas naturais “infantilidades” que até agora chamam de “violência”, quando se está mesmo a ver que são apenas agressões verbais infantis, sem importância nenhuma, os meninos cá em casa também nos chamam nomes, são crianças, mesmo com 16 e mais anos não deixam de ser criancinhas, coitadas, precisam de ajuda, como diz o Sá! Onde é que já se viu, recusarem a razão de existirem, eles servem para isso, os profs, qual transmissão de conhecimentos qual nada, o meu filhinho aprende muito bem na Internet, escreve lindamente quando copia da net, e o raio da prof a embirrar com ele! Ponha-se na ordem essa corja que só mama o Estado! Estudem-se formas de os obrigar a organizar e vigiar meninos em colónias de férias qu’a gente temos um emprego a sério e precisamos de gozar as férias descansados sem a pequenada atrás com as suas normais birrinhas!
Mas eu vinha falar de estilos de governação e acabei a falar dos profs. Voltemos ao essencial, a coisas mais sérias. Muitíssimo bem, está-se no bom caminho, ensaie-se esta forma de gerir no Estado, deixem-se os ditadorezinhos mostrarem quem manda, estabeleça-se esta filosofia de gestão também nas escolinhas básicas e secundárias, deixe-se grassar o clientelismo mais mediocrizante e mesquinho, fomente-se o comadrio (não é erro ortográfico, é mesmo isso, comadrio, diz mais esta palavra sobre o ambiente geral entre colegas, homens ou mulheres, que decorre deste estilo, do que “compadrio” ) estimule-se a bajulice e esmaguem-se as vozes discordantes dos "conflituosos que não deixam o governo e os senhores gestores trabalhar", calem-se de vez aqueles que têm o terrível defeito de usar o cérebro que o criador lhes deu e, pior ainda, de expressar em alta voz, em reuniões de decisão, as conclusões resultantes desse uso...
A seguir, também no sector privado, vingará este magnífico estilo de gestão, que embora muito antigo, se auto-apelidou de "moderno": só falta a prisão política e a polícia nas empresas! A modernice vem daí, a polícia não é precisa, o medo à polícia está dentro da cabecinha das pessoas, é herança de Salazar e, como muito bem se leu recentemente no Abrupto, o terror do conflito é a herança que deixou o ditador… a prisão política não é precisa, o medo do desemprego e de não singrar na carreira chega por agora, funciona lindamente!
Este "contexto social" é, aliás, um dos critérios do Banco Mundial para estabelecer o ranking da "competitividade", a "autoridade"- a facilidade de despedir quem incomoda com as “manias” de que a lei deve ser cumprida é um dos aspectos básicos da "flexibilidade do mercado de trabalho". Aliás, esta forma de gerir é, de facto, o estilo de muita gente bem colocada e que, claro, faz constar das suas ligações à esquerda e ao partido do governo. Há um caso paradigmático, bem colocado na gestão dos politécnicos, que nem um mestrado tinha quando acedeu ao lugar de gestão, e que, sem qualquer curso de economia ou gestão e nem mesmo de engenharia, disse coisas avulsas a respigueito –não é erro, é a contracção de “respiga” com “eito”- do contexto empresarial nacional, tecendo glosas aos critérios do BM que mal conhece, para poder escrevinhar umas “palavras com liberdade". A liberdade que ele usa para sanear os que o não bajulam. E disto há infelizmente muito por aí! Tal como havia na Alemanha nazi, é sabido como muitos medíocres se libertaram dos obstáculos à sua carreirinha que alguns (de facto, muitos) professores judeus brilhantes constituíam e cujo único crime foi precisamente o facto imperdoável de não serem medíocres como os que os denunciaram e que deles alegremente se libertaram! Claro que estes nada disto conseguiriam sem as suas ligações ao poder nacional-socialista que por sua vez nada era sem os seus apoiantes difusos interessados em usar atalhos para singrar à custa do esmagamento de colegas melhores que eles…
Sobre o tal (que aqui fica como exemplo apenas) veio a constar recentemente, que saiu doutorado há pouco tempo por artes mágicas, talvez tenha apresentado o seu livreco, colecção do que tem escrevinhado em jornalecos locais a respeito de como se devem dirigir politécnicos públicos. Talvez tenha acrescentado em anexo os seus mui doutos e imparciais actos administrativos, cuja isenção já vem sendo conhecida na praça, a ilustrar como tem vindo a garantir a liberdade de expressão e os direitos humanos em geral, sobretudo o da não discriminação na instituição que dirige.
Esperemos que o Sócrates faça o mesmo, aproveite o tempo em que está primeiro ministro e peça equivalência ao doutoramento, submetendo uma colectânea de discursos a uma chafarica universitária qualquer que lhe branqueie eventuais balelas demagógicas de senso comum barato, que lhe dê o grau , não honoris causa, isso não vale, um a sério, coitado do homem, também merece, até não escreve mal: embora não seja científico o seu discurso, vamos lá, até soa bem e mete tecnologias em cada frase! Ele que junte os decretos-lei que aprova em conselho de ministros, em anexo, claro. Vamos lá, senhores professores das Universidades, sejam bonzinhos que nunca se sabe se não haverá frutos a colher dessa bondade, dêem-lhe também um grau em gestão ou mesmo engenharia, sempre é a sua área, e é pessoa convicta do que diz e frequentemente brilhante a falar, sempre merece mais que o tal!

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