quarta-feira, fevereiro 15, 2006

"Gostei, pois claro"

Pois, também, impulsivamente talvez, aplaudi a operação, inesperada, ribombante, dramática, orgulhosa, deixando desconfortavelmente debaixo dos holofotes alguns dos tais gestores "excelentes" muitíssimo bem pagos (calculo eu, claro, até pode ser que não...coitados) instalados nos lugarzinhos com "bons resultados de gestão" assegurados por todos nós, pelo menos os "nós", de nós, que pagam impostos e pagam contas e não sabem roubar sinal, resultados garantidos à sombra da nossa continha mensal, com monstrinho, pois claro, amparados também pelo OGE, se for necessário cobrir um ou outro "buraquito". Quanto ao buraco, dá que pensar... Como é que foi? Terá sido por aqueles (ou outros antes deles) terem encaixado nos bolsinhos (sob a forma de pensões douradas, por exemplo) os lucros futuros? quem saberá... Enfim, não temos dados para afirmar nada mas irrita muito saber que aquela possibilidade existe, sobretudo porque uma vez ali instalados não terão que prestar contas a ninguém pois as nomeações são, antes de mais, contratos de vassalagem política com quem lá os pôs ... pois, claro, há o relatório anual, esse tem que se fazer... claro...só pessoas muito mal intencionadas podem ter destas desconfianças... De qualquer modo, quanto àquelas hipotéticas manobras (que, insisto, podem ser mesmo meramente hipotéticas) temos agora a certeza de que ficarão bem mais dificultadas uma vez que, de repente, todos querem saber mais sobre a tal empresa... Entretanto, haverá outras empresas parecidas que, pelo sim pelo não, estarão já a pôr trancas à porta, antecipando ou adiando manobras... é pena, mas só um Gates as comprava todas de uma vez...
Gostei, pois claro que gostei!
Gostei... e no entanto... (lá vem o velho do Restelo que há sempre em nós) talvez estejamos a assistir a algo que não será muito mais do que podemos ver num episódio de um dos dois (ou três) canais televisivos do cabo dedicados à Natureza e que têm uma inexplicável predilecção pelos predadores e pelas máquinas de guerra. Pode ser apenas mais um episódio sobre a agressividade entre tubarões de espécies diferentes , meras questões de territorialidade. De qualquer modo, interessante...
Menos interessante talvez tem sido ver jornalistas, economistas e comentadores bajulando o rei do oceano. Fazem lembrar aqueles peixinhos que estão sempre agarradinhos às costas dos tais grandes predadores de dentição invejável (e ninguém negará a estes essa qualidade). Pensam os tais peixinhos e alguns dizem mesmo: "O que estará ele a pensar? Será que se vai fartar das nossas ventosas? Mas ele tem que compreender, o outro assunto dos desenhos está a esgotar, apesar das novas fotografias publicadas, o pessoal está a ficar enjoado do assunto, como está a ficar farto de ouvir dizer mal dos professores e dos funcionários públicos e a cerimónia de rendição (em Belém, claro, ...) é só lá para Março, temos que aproveitar o filãozinho da finança rocambolesca, é o nosso trabalho, os outros fazem e nós comentamos (e analisamos cientificamente, no caso dos economistas, claro), é disto que vivemos, é a nossa natureza, é o nosso dever"....
Enfim, a vida no mar no seu melhor...
Pois, eles.... e nós ( os outros?)... compramos acções do homem, pelo sim pelo não...compramos também mais da tal empresa, nunca se sabe... ou vendemos. A vender, se calhar é agora a altura... a quem? ... ao homem, pois claro!
Aliás, diga-se em abono da justiça e da auto-estima portuguesa: nós somos, de facto, bons a ver a coisa, quando nos cheira a dinheirinho fácil (e ainda há quem duvide do nosso jeito para o negócio). Como não sabíamos bem qual o nosso papel e opinião (problema que nos acontece recorrentemente) em relação à recente (ia dizer escaramuça mas tem uma sonoridade duvidosa, terei que ver primeiro de onde vem esta palavra, não vá ofender alguém) , repetindo , em relação à recente polémica dos desenhinhos, descobrimos pelo menos um papel bem pragmático e moderado. Uma vez mais, e à semelhança do que fizemos noutras situações críticas, vamos servir à mesa: vamos oferecer férias seguras aos dinamarqueses, já que temos pelo menos o selo de bom comportamento passado pelo Irão... temos, de facto, vocação hoteleira, estou-me a lembrar do tal cafèzinho dos aliados nos Açores, pois é, servir à mesa está-nos no sangue... talvez até seja uma vocação afinal muito elevada ( não se ofenda quem tem mesmo que o fazer de profissão, com ou sem vocação, claro que estamos a falar em sentido figurado, arre que está a ficar difícil usar a liberdade de expressão) vocação muito elevada, dizia, de algum modo relacionada com a paz mundial, como aliás tão doutamente soubemos fazer no último conflito mundial. Que diabo ( não se ofendam, é uma força de expressão, nada tem aqui a ver com religião) se todos se encontrarem no casino, o dinheiro e o jogo também fazem esquecer desavenças...sobretudo se todos ganharem, claro (e já agora nós também)...
É assim que se sobrevive neste cantinho dos espertinhos... No entanto, pensamos: bem, não somos todos assim, eu não, tu também não, aquele talvez..aquele, de certeza.
Será que nós não?...pois ...oh , dizemos : sabes que mais? é melhor ouvir anedotas estúpidas, a vida é difícil, e isto de pensar ...faz mal à saúde!
E assim evoluímos, com soluções adaptativas notáveis na argumentação, sobretudo quando é a nossa própria consciência que nos pede contas, algo aliás que nos está a acontecer cada vez menos ...
Para concluir e para não recair na depressão, pois comecei tão bem, parece-me, assim de repente, que pode haver um efeito colateral interessante na tal operação de que estava a falar acima e que me levou a escrever este texto: é que é bem capaz de vir a sair mais cara à Castela a aquisição (pública ou não) do cantinho de que falamos... e vá-se lá saber porquê , também gostei dessa ideia...

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