sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Deprimente?

Recém chegada à blogoesfera ou lá como lhe chamam, navegando até aos bloguezinhos anunciados na televisão e lendo os comentários... Actividade deprimente? Talvez não, achei interessante verificar como o que se passa "lá fora" ainda nos seduz. Deve ser bom sinal.
Não deixei comentário em nenhum dos tais blogues, sobre o tema da moda, os desenhinhos (não ponho a outra palavra, por receio de ser visitada, é cedo ainda...escrevo na web sem saber porquê, tal como muitos outros, talvez por um sebastianismo de mim, de nós, enfim, não interessa, por ora evitarei as palavras chave da moda).
Mas o que assusta um pouco é o tom dos comentários, muitos , demasiados , o mesmo tom de alguns iluminados comentadores da praça, é melhor não pôr os nomes, vou pôr as iniciais :N.R., L.D, por exemplo, e outros génios... o tom de quem acha que interpretou toda a dimensão da complexidade da questão e que ninguém mais está a ver a coisa... enfim... Claro que todos o fazemos, uma certa geração habituada à contundência do debate nos plenários estudantis, que passou por plenários de empresa, comissões várias, nunca lhe perdeu o jeito...e estamos assim, muito obsoletos por dentro muitos ajustadinhos por fora , com bons empregozitos, carrinhos bons, vidinhas razoáveis, a espaços com a fúria de sabermos que todos atraiçoámos algures os nossos princípios e ideais (aqui incluo a direita e a esquerda, não acho que só a esquerda tenha princípios genuínos, não acho que a direita seja por definição cínica e a esquerda seja o refúgio dos melhores princípios da humanidade, não hoje, não agora) e apontamos o dedinho a todos os outros ... somos assim, e desde que o saldo negativo se instalou no imaginário colectivo, tem sido demais, a inveja à solta nas casas e nas ruas, o ódio contido a derramar-se sobre o vizinho igual a nós, diferente num privilégio ou noutro e tão semelhante na pequenez, o vizinho "outro" diferente, tão pequeno agora, tão humilhado e talvez por isso, tão arrogante que tem a veleidade de querer ter o exclusivo da interpretação do divino. O medo a passar por todos nós, "eles" e "nós", fundidos num nós igualmente arrogante que se constrói na rua, nos media... Talvez um dia todos voltemos aos livritos que deixámos de ler, talvez um dia a História volte a ser a ciência que era em ambos os lados... enfim... o tema da moda, vai esquecer-se daqui a uns dias... carrinhos ou edifícios a arder nos monitores não nos espantam, não nos incomodam, é cena obrigatória em todos os filmes de acção ... é cena diária, repetida no médio oriente, ora agora mato eu, ora agora matas tu... o medo em ambos os lados, a miséria só num...mas isso não nos incomoda também...
E já agora, deste lado a possibilidade da miséria nos tocar, não é cenário impossível, medo disso também, o medo que nos faz dizer disparates por motivos diplomáticos para amainar os ventos... ventos criados por este sistema económico magnífico na distribuição do rendimento, da dignidade e da vida, que sobrevive embora absurdo por absoluta falta de outro (melhor?) e que sobrevive precisamente por que se casou na devida altura com a noção de liberdade de que não largamos mão por nos ser intrínseco: talvez em parte, o divino em nós todos ...neles também e sabem-no bem, por isso a experiência de tudo isto é tão absurda, tão dura, tão solitária e tão violenta de uma forma ou de outra e em medidas várias em todos nós!...

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