quinta-feira, março 01, 2007

O modelo da China e por cá está-se bem


O modelo chinês* não é muito original, capitalismo selvagem e ditadura sempre foram compatíveis. Por cá a parte da ditadura policial (pelo menos todos nos habituámos a pensar que é ela que permite escravizar as pessoas) tem sido dispensada através do espectáculo do circo dos media, onde os debates são o que são, com convites apenas às pessoas consideradas "moderadas". Aplica-se a censura um pouco por todo o lado, mas ninguém sabe, promovem-se alguns medíocres que vão dizendo umas coisas no cravo e outras na ferradura, deprimindo a capacidade crítica do público através da análise fácil e primária.
Faz-se o elogio do privado , elegem-se os funcionários públicos como os bodes expiatórios e procede-se à liquidação massiva do Estado, sob os aplausos dos trabalhadores do sector não estatal . Quanto aos 700 000 funcionários estatais, é facilímo! Primeiro anuncia-se algo devastador, fazendo tábua rasa da lei constitucional e de muitas outras, depois assegura-se que não há despedimentos e ninguém acredita. O funcionário Santos, precariamente politizado, encheu-se de medinho e faz como sempre, pensa com os seus botões: "pode ser que eu escape, que saia o Silva, a Clara e o Martins, mas preciso ainda de dois pontinhos para estar à frente deles definitivamente. Injusto, já que a Clara está sempre grávida, o Martins anda a estudar à noite e vem pr'aqui dormir e o Silva já deu o que tinha a dar". Claro que o Martins acha que o Santos e o Silva são uns incapazes e que a Clara é um perigo, ainda chega a chefe e não vale a pena dizer o que pensa a Clara dos colegas... Posto isto, por aqui, a polícia e as prisões políticas quase não são precisas. Até nos passa pela cabeça que Salazar não foi um Pinochet* não por ser um ditador mais democrata, mas porque cá havia muitos mais eunucos...
De explorar divisões sabe o governo e temos que admitir que o fizeram e o fazem com uma tal mestria... uma tal habilidade que o Mefisto se rói todo de inveja! Os nossos gloriosos anti-fascistas (dizem eles e, espantemo-nos, alguns pensam mesmo que são) os nossos ditos socialistas são os campeões da manipulação da inveja e do medo... Falta o "nacional" antes da palavra "socialismo"? Vistas bem as coisas, para quê o nacional, se internacionalmente os ventos correm a favor do neoliberalismo mais radical, mais descarado e desumano sob o beneplácito dos governos sociais democratas, socialistas e até comunistas? Está tudo a favor, para quê mudar nomes e trazer assuntos à baila que podem dividir os senhores empresários? Estes últimos são os venerados sacerdotes do deus que domina o mundo e acontece que nunca, com tanta facilidade, dominaram o globo como actualmente e alguns, percebendo a direcção dos ventos com o dedinho molhado, tornaram-se europeístas. Os semi-deuses senhores empresários ou senhores gestores, algumas vezes também chamados "capitães de indústria" para torná-los mais românticos, concordam numa coisa: está-se bem por cá, com este governozinho e a sua política "corajosa"...


* Nota: Embora à primeira vista possa parecer que pouco tem a ver com o que aqui acabou de ser dito, será interessante ler este artigo sobre a China
http://www.prospect.org/web/page.ww?section=root&name=ViewWeb&articleId=12329

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